quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

As nossas fotos valem dinheiro, mas nada recebemos...malditas letras pequeninas que vêem nos contratos.


A trapalhada do Instagram...
Este tipo de situação repete-se: alguém lê as letras pequeninas dos termos de serviços do Google, da Apple ou da Microsoft, e descobre algo que parece ser uma escandalosa declaração de posse, do género “nós somos donos de si”.

Recapitulemos: o Instagram, a aplicação para aplicar filtros e partilhar fotografias que foi recentemente adquirida pelo Facebook por mil milhões de dólares, alterou a sua política de privacidade na segunda-feira, dia 17. A nova directiva diz o seguinte:

“Você concorda que uma empresa ou outra entidade nos possa pagar para fornecermos o seu nome de utilizador, gostos, fotografias (juntamente com quaisquer metadados associados) e/ou acções que você empreenda, no contexto de conteúdos ou promoções pagos ou patrocinados, sem que você receba por isso qualquer compensação.”

Espectáculo! Então, você tira uma fotografia linda e imaginativa – e o Instagram pode vendê-la a anunciantes sem que você receba um só cêntimo.

A Internet entrou em polvorosa. Instruções para cancelamento de contas da Instagram inundaram a rede. Indignação e ultraje estavam por todo o lado.

Algo me dizia que o Instagram não é realmente assim tão estúpido. Este tipo de situação repete-se de tantos em tantos meses: alguém lê com atenção as letras pequeninas dos termos de serviços do Google, da Apple ou da Microsoft, e descobre algo que parece ser uma escandalosa declaração de posse, do género “nós somos donos de si”, enterrada no meio do palavreado legal. O Google, ou a Microsoft, ou a Apple, desculpam-se com “Não é isso que nós queríamos dizer – é apenas algo que o nosso advogado colocou lá, e vamos mudar”. E a vida continua.

E tinha razão: na terça-feira, dia 18, Kevin Systrom, um dos fundadores do Instagram, respondeu à indignação com um texto no blogue que, resumindo, significa: “Não é isso que nós queríamos dizer”.

“Muitas pessoas interpretaram como se nós fôssemos vender as vossas fotografias a outros sem qualquer compensação”, escreveu Systrom. “Isso não é verdade, e assumimos o erro de termos utilizado linguagem confusa. Para que fique bem esclarecido: não temos qualquer intenção de vender as vossas fotografias. Estamos a trabalhar numa linguagem actualizada nos termos de privacidade para termos a certeza de que isto fica claro.”

Mas o que quis ele dizer com isto? “Queremos criar maneiras significativas para vos ajudar a descobrir clientes e conteúdos novos e interessantes, ao mesmo tempo que criamos um negócio auto-sustentável.”

Não tenho a mínima ideia do que é que isso significa. Li o texto seis vezes, e nada do que lá está escrito se consegue perceber.

Em qualquer caso, é claro que o Instagram reconheceu publicamente a sua linguagem “mal interpretada”, e promete alterá-la antes que a sua política entre em vigor, em Janeiro.

Tudo bem. Mas agora a sério – como é que alguém, nesta era de imensa atenção e sensibilidade face às questões da privacidade, pensou que se conseguia safar com uma escolha de palavras tão incendiárias? A quem poderia escapar a probabilidade de “má interpretação”? De que tipo de reacção estava ele à espera?

Talvez a partir do momento em que se tem mil milhões de dólares na conta bancária se perca um bocadinho a noção da realidade.

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